Marcie Free, ícone trans e do rock, morre aos 71 anos

O mundo do rock está de luto pela perda de uma verdadeira original.

Marcie Free — a poderosa vocalista por trás das bandas King Kobra, Signal e Unruly Child — morreu aos 71 anos.

Um espetáculo de se ver

Sua morte foi confirmada na sexta-feira pelo amigo de longa data e baterista Jay Schellen, que tocou com Free no Unruly Child. A causa da morte não foi divulgada.

“Marcie era um espetáculo de se ver. Uma voz sem limites e sem igual, um talento verdadeiramente singular e uma das almas mais abertas e belas que já conheci”, escreveu Schellen em um comovente post no Facebook. “Estou devastado e não consigo dizer muito mais.”

Schellen continuou: “Isso é de partir o coração. Bruce, Guy, Larry — todos que considero como família — estão arrasados com a perda da nossa Marcie. Começamos o UC juntos em 1992 e continuamos nossa amizade e parceria musical por todos esses anos até hoje. Marcie sempre foi um anjo — agora você tem suas asas.”

Uma voz como nenhuma outra

Nascida Mark Edward Free em South Bend, Indiana, em 1954, Marcie iniciou sua carreira aos 19 anos. Depois de se mudar de Michigan para Las Vegas e, posteriormente, para Los Angeles, ela encontrou seu caminho no mundo do rock.

Tudo mudou em 1983, quando conheceu o baterista Carmine Appice, que havia se separado recentemente de Ozzy Osbourne. Juntos, formaram o King Kobra, assinando com a Capitol Records um ano depois. Com álbuns como Ready to Strike (1985) e Thrill of a Lifetime (1986), os vocais poderosos e o alcance impressionante de Free a tornaram uma das vozes mais distintas do rock melódico.

Marcie Free / Getty Images

Em 1987, ela se juntou à banda Signal, um projeto de vida curta, mas muito amado, que lançou o álbum Loud and Clear. Apesar da divulgação limitada, o disco continua sendo um favorito cult entre os fãs de AOR.

Em 1990, Free encontrou seu verdadeiro lar criativo com o Unruly Child, ao lado do guitarrista Bruce Gowdy e do tecladista Guy Allison. O álbum de estreia autointitulado da banda, lançado em 1992, tornou-se um sucesso entre os fãs, consolidando a reputação de Free como uma das grandes contadoras de histórias vocais do rock.

Uma transição corajosa

Após o lançamento do primeiro álbum do Unruly Child, Free tomou uma decisão profundamente pessoal e transformadora. Em 1993, ela se assumiu publicamente como mulher trans e adotou o nome Marcie Michelle Free.

A decisão, embora libertadora, teve um preço. “Meu mundo musical desmoronou rapidamente”, admitiu Free mais tarde. Ela contou ter sido rejeitada por muitos na indústria após se assumir, o que fez o ímpeto da banda diminuir.

Mesmo assim, manteve-se orgulhosa e desafiadora. Em entrevistas, disse que a transição foi uma questão de sobrevivência — “uma decisão entre a vida e a morte” — e que, se tivesse continuado vivendo como Mark, “teria morrido com certeza”.

Depois de se afastar da música em meados dos anos 1990, Free voltou para Michigan para ficar mais próxima da família, levando o que descreveu como “uma vida normal, como qualquer pessoa leva no dia a dia”.

Durante esse período, Free enfrentou o alcoolismo, mas encontrou a sobriedade por volta de 2008, atribuindo sua recuperação à fé e ao seu “relacionamento pessoal com Deus”, que a ajudou a reconstruir sua vida.

Reconquistando o palco

Em 2009, Free reuniu-se novamente com Gowdy e Allison para relançar o Unruly Child. O trio lançou vários álbuns ao longo da década seguinte, incluindo Worlds Collide (2010) e Down the Rabbit Hole (2014).

Apesar das dificuldades, os fãs de Free nunca a abandonaram. Sua trajetória — dos palcos do glam metal dos anos 80 à sua transição corajosa e eventual retorno à música — fez dela uma lenda silenciosa entre aqueles que conheciam sua história.

Homenagens têm chegado de fãs e amigos de todo o mundo. “Uma das minhas cantoras favoritas de todos os tempos com quem já trabalhei. Uma perda incrível”, escreveu um fã online. Outro acrescentou: “Sem dúvida, uma das minhas maiores influências vocais… Uma pessoa incrível. Meu coração está partido, pessoalmente e por vocês. Verdadeiramente uma perda para a humanidade.”

O jornalista musical Andrew McNeice, do site Melodic Rock, também expressou sua dor ao escrever: “É o tipo de notícia que a gente teme, especialmente no meio da noite… Mas minha amiga Marcie Free nos deixou, e estou de coração partido. Falarei mais sobre isso depois. Descanse em paz, a voz do AOR.”

No Reddit, fãs relembraram sua presença eletrizante no palco:
“Meu Deus! Ela fez um trabalho incrível em Ready to Strike. Vi o King Kobra em San Diego nos anos 80. Havia apenas cerca de 100 pessoas no clube, mas eles nos entregaram um show digno de arena. Lamento muito saber da sua morte.”

Um legado duradouro

Free costumava citar Aretha Franklin como uma de suas maiores inspirações, chegando a agradecer à lenda do soul nos créditos de seus álbuns. Sua própria voz, crua e ao mesmo tempo meticulosamente controlada, carregava ecos do rock clássico, do soul e de pura emoção.

“As palavras de Jay Schellen ainda ecoam — ‘Marcie era um espetáculo de se ver’ — e, para quem já a ouviu cantar, essa verdade é eterna.”

Free deixa um legado definido tanto pela força quanto pela vulnerabilidade. Uma voz que nunca se curvou a limites e um espírito que desafiou todos os rótulos. Obrigado, Marcie Free, por lembrar a todos que a autenticidade é a forma mais pura de beleza.

Você foi, como disse seu companheiro de banda, “sempre um anjo”. Descanse em paz, Marcie.

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