Ele nasceu em uma pequena cidade fronteiriça no interior do Brasil, um lugar onde a vida seguia devagar e as expectativas eram rígidas.
Criado por um pai militar severo e uma mãe sensível e artística, sua infância foi moldada por contrastes: disciplina de um lado, criatividade do outro.
Desde muito cedo, ele se sentia diferente. Pintava, adorava música e teatro, e vivia cantando — com uma voz mais aguda do que a maioria esperava de um menino. Em vez de apoio, suas inclinações artísticas eram recebidas com estranhamento dentro de casa.
A constante mudança de cidade, destino comum para filhos de militares, só aprofundava seu sentimento de não pertencer a lugar algum.
Com o passar dos anos, a tensão familiar aumentou. Sua sensibilidade, seu jeito expressivo e principalmente sua voz incomum eram rejeitados pelo pai, deteriorando cada vez mais a relação entre os dois.
Aos 17 anos, após conflitos repetidos, ele foi expulso de casa — um momento que mudaria seu destino.

Primeiro passo fora do ninho… e um caminho tortuoso até a arte
Sozinho e em busca de direção, ele ingressou na Força Aérea Brasileira aos 18 anos. Mas a estrutura rígida da vida militar jamais poderia conter o mundo vibrante que existia dentro dele.
Logo ficou claro que seu caminho estava na expressão, não na obediência.
Depois, mudou-se para Brasília, onde trabalhou em um hospital — primeiro em um laboratório de anatomia patológica, depois na ala pediátrica. Lá, teve contato com corais e começou a experimentar sua voz de maneira mais consciente. Pela primeira vez, percebeu que aquilo que sempre fora motivo de rejeição era, na verdade, algo único.
Mas sua verdadeira busca era por liberdade. Em 1966, mudou-se para o Rio de Janeiro, vivendo como hippie, vendendo artesanato e sobrevivendo como podia, enquanto nutria um sonho que ele ainda hesitava em chamar de carreira.
Foi nesse exílio voluntário — longe dos julgamentos do interior — que ele começou a se reconhecer por completo.

A ascensão: quando a voz e a ousadia se encontram
Somente em 1971 é que seu nome finalmente entra na história: Ney Matogrosso.
Vivendo em São Paulo, ele adotou o nome artístico que logo se tornaria inesquecível, honrando tanto sua história familiar quanto suas raízes sul-mato-grossenses.
Pouco depois, foi convidado a integrar a banda Secos & Molhados graças ao seu estilo vocal marcante e andrógino. O impacto foi imediato: com sua voz de contratenor, presença intensa, maquiagem, coreografias e figurinos ousados, ele transformou cada apresentação em um manifesto.
E embora o sucesso do grupo tenha sido meteórico, durou pouco. Ney logo seguiu seu próprio caminho, iniciando uma carreira solo que o consagraria como um dos artistas mais inovadores da música brasileira.

O símbolo de liberdade que nasceu da dor
Sua história revela como as feridas da infância — rejeição, deslocamento e a expulsão de casa — tornaram-se combustível para um brilho artístico extraordinário. Ele se recusou a se curvar às expectativas conservadoras: transformou dor em força, diferença em beleza e sua voz em um grito de identidade.
Com estética andrógina, performances intensas e uma voz única, Ney Matogrosso quebrou todas as regras em uma época em que tamanha ousadia era considerada escandalosa — e, ao fazer isso, tornou-se um símbolo de coragem, liberdade e autenticidade.

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