
Um momento de cair o queixo em uma competição de atletismo escolar na Califórnia está gerando indignação e reacendendo um debate acalorado em todo o país.
Durante a final da Seção Sul da CIF, Reese Hogan, da escola Crean Lutheran, tomou uma atitude ousada — literalmente — ao subir no lugar mais alto do pódio, mesmo tendo ficado em segundo lugar no salto triplo.
O motivo? Hogan foi superada por AB Hernandez, uma atleta transgênero que nasceu homem, mas atualmente compete como mulher.
Guerra contra o esporte feminino?
O debate sobre atletas trans em esportes femininos está dividindo o país. Os defensores argumentam que se trata de inclusão, identidade e direitos humanos básicos — mas os críticos alertam que é uma ameaça direta à justiça e à integridade das competições femininas.
Agora, a questão não é apenas um ponto de discórdia cultural — é também política. Em fevereiro, o ex-presidente Donald Trump tomou uma posição firme ao assinar uma ordem executiva proibindo mulheres trans de competirem em divisões esportivas femininas.
Trump declarou: “A guerra contra os esportes femininos acabou”, prometendo que, durante os próximos Jogos Olímpicos de Los Angeles, “meu governo não ficará parado assistindo homens vencerem e agredirem atletas femininas”.
A decisão, como era de se esperar, causou polêmica nacional — e nem todos os estados concordam. O Maine, por exemplo, se recusou publicamente a proibir atletas trans de participarem em esportes femininos.
Agora, um momento viral vindo da Califórnia reacende o debate explosivo.
As imagens
Na final da Seção Sul da CIF em 18 de maio, Reese Hogan, da Crean Lutheran High School, tomou uma atitude desafiadora.
Embora tenha terminado em segundo lugar no salto triplo, Hogan voltou ao pódio após a cerimônia oficial e ficou em pé no lugar mais alto — que havia ficado vazio após a saída da vencedora do evento, a atleta trans AB Hernandez.
A cena, registrada em um vídeo que viralizou, rapidamente se espalhou pela internet. Para muitos, ela simboliza a frustração diante do que consideram um campo de competição injusto.
Hernandez, uma atleta biologicamente do sexo masculino que se identifica como mulher, dominou a prova com um salto de 12,59 metros — mais de 1,20 metro à frente de Hogan.
Representando a Jurupa Valley High School, na Califórnia, Hernandez também venceu o salto em distância e ficou em sétimo lugar no salto em altura, garantindo vaga no CIF Masters Meet, agendado para 24 de maio.
A internet reagiu rapidamente.
“Esse cara venceu o salto em distância e o salto triplo feminino em uma competição na Califórnia no fim de semana,” escreveu Jennifer Sey, fundadora do grupo de defesa do esporte feminino XX-XY.
“Ele venceu o salto triplo com 2,4 metros de vantagem. Está esmagando a concorrência!”
“Uau, que conquista. Com certeza não teve nada a ver com o fato de ser biologicamente homem”, ironizou Colin Rugg, cofundador do site conservador Trending Politics.
Outros se juntaram às críticas, em uma onda crescente de indignação.
“O segundo lugar é a verdadeira campeã!”, escreveu um usuário. “Parabéns pra ela! Essa loucura precisa parar”, comentou outro.
Um cartaz direto e provocativo visto no local da competição dizia:
“Os homens mais fracos competem com garotas, as mentes mais fracas aplaudem isso.”
Outro internauta desabafou:
“Estou cansado disso. Toda a luta pelos direitos das mulheres agora está sendo destruída pelas mesmas pessoas que antes lutavam por esses direitos.”
Uma série de polêmicas
Essa reação é apenas mais um episódio em uma sequência de polêmicas envolvendo atletas trans competindo em categorias femininas. Muitos citam casos anteriores, como o de grande repercussão ocorrido na Carolina do Norte, que teve consequências duradouras.
Em 2022, a jogadora de vôlei Payton McNabb, então com 17 anos, sofreu uma lesão cerebral traumática após ser atingida por uma cortada de uma atleta trans. Sua mãe afirmou posteriormente:
“Na época, não podíamos falar nada. Não podíamos dizer: ‘Ela não vai jogar contra um menino, isso é perigoso.’”
O caso McNabb motivou parlamentares da Carolina do Norte a aprovarem uma lei que proíbe atletas trans de competir em equipes femininas no ensino fundamental, médio e superior.
Mas nem todos apoiam esse tipo de medida. Mais de 400 atletas olímpicos — atuais e aposentados — assinaram uma carta pedindo à NCAA que não adotasse proibições semelhantes, afirmando que queriam estar “do lado certo da história” e defendendo que o esporte deve ser “para todos”.
Enquanto isso, Hernandez desdenhou da polêmica, chamando as críticas de “ridículas”.
“O simples fato de homens competirem contra mulheres é absurdo”, criticou um usuário nas redes. “Pessoas trans deveriam ter sua própria liga, e homens e mulheres poderiam manter seus esportes tradicionais.”
“Meninas trans são meninas”
Por outro lado, muitos defenderam o direito da jovem atleta de competir.
“Ela seguiu todas as regras”, escreveu um internauta. “Se as pessoas não gostam, o problema está nas regras, não nela.”
“Meninas trans são meninas”, comentou outro. “Hernandez venceu com mérito.”
Em uma entrevista recente ao Capital & Main, Hernandez falou sobre a onda de críticas que tem enfrentado durante uma temporada de altos e baixos no atletismo — com performances de destaque, mas também competições em que sequer subiu ao pódio.
“Eu ainda sou uma criança, você é adulto, e agir como uma criança mostra quem você é de verdade. Tudo que eu pensei foi: ‘Acho que você não entende que isso desmonta sua teoria idiota de que eu sou imbatível por ser biologicamente homem.’ Agora você não tem prova de que eu não posso ser derrotada.”
Segundo o Capital & Main — veículo premiado que cobre temas econômicos, ambientais e sociais na Califórnia — estudos indicam que atletas trans não superam consistentemente suas colegas cisgênero. Em diversos critérios, inclusive, mulheres trans estariam em desvantagem comparadas às cis.
A questão está longe de ser resolvida. Com mais estados propondo proibições e atletas famosos se posicionando dos dois lados, a disputa pelo futuro do esporte feminino continua intensa.
E por causa do protesto silencioso de Reese Hogan no pódio, essa discussão acaba de ficar ainda mais alta.
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