Cicatriz da varíola: como é e por que aparece

Vacina da varíola. Crédito / Shutterstock

Tenho uma lembrança nítida de notar uma cicatriz distinta no braço da minha mãe quando era criança. Ela fica mais acima, perto do ombro, com a aparência de um anel de pequenas marcas na pele ao redor de uma marca maior.

Não me pergunte por que isso chamou tanto a minha atenção naquela época — não me lembro. Só sei que chamou. Mas, como acontece com tantas coisas na infância, acabei meio que esquecendo da existência dela com o passar dos anos.

Bom, obviamente não esqueci que a cicatriz existia (ainda está exatamente no mesmo lugar, é claro), mas esqueci que, em algum momento, fiquei fascinado com o que a causou. Talvez eu tenha perguntado à minha mãe e ela tenha explicado. Se explicou, eu também esqueci.

Até que, num verão de alguns anos atrás, ajudei uma senhora a descer de um trem e notei a mesma cicatriz, no mesmo lugar da do braço da minha mãe. Claro que isso despertou meu interesse novamente, mas como o trem estava prestes a seguir viagem, não pude perguntar sobre a origem da marca.

Em vez disso, liguei para minha mãe, e ela me revelou que já tinha me contado mais de uma vez — aparentemente meu cérebro não achou a resposta importante o suficiente para guardar — e que a cicatriz era resultado da famosa vacina contra a varíola.

A varíola é uma doença infecciosa viral que já aterrorizou a humanidade. Provocava febre e uma erupção severa na pele, e durante os surtos mais intensos no século XX, matava cerca de 3 em cada 10 vítimas, segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC). Muitos sobreviventes ficavam com sequelas visíveis.

Graças à aplicação ampla e bem-sucedida da vacina contra a varíola, o vírus foi declarado “extinto” nos Estados Unidos em 1952. Em 1972, as vacinas contra a varíola deixaram de ser parte da imunização de rotina.

Até o início dos anos 1970, porém, todas as crianças eram vacinadas contra a varíola — e a vacina deixava uma marca bem visível. Era, por assim dizer, o primeiro “passaporte vacinal”: uma cicatriz que mostrava que a pessoa havia sido imunizada com sucesso.

E sim, é exatamente essa cicatriz que minha mãe tem (assim como praticamente todas as pessoas da geração dela).

Por que a vacina da varíola deixava cicatriz?

A cicatriz era causada pelo próprio processo de cicatrização do corpo. A vacina era aplicada de forma bem diferente das vacinas modernas, com uma agulha especial de duas pontas.

Cicatriz de varíola. Crédito / Shutterstock

A pessoa que aplicava a vacina fazia várias perfurações na pele (em vez de apenas uma, como acontece com as vacinas de hoje) para que o imunizante atingisse a derme — a camada abaixo da epiderme.

O vírus contido na vacina então começava a agir, se multiplicando e fazendo com que surgissem pequenas protuberâncias arredondadas. Essas protuberâncias evoluíam para vesículas (pequenas bolhas com líquido), que depois se rompiam e formavam crostas com o tempo.

O resultado é a famosa cicatriz da qual falamos neste artigo.

Você é de uma época em que ainda se recebia a vacina da varíola e ficou com a cicatriz? Conte pra gente nos comentários!

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