Trump é criticado por perguntar onde liberiano aprendeu inglês

Durante seu primeiro mandato, Donald Trump causou indignação em toda a África e no Caribe ao supostamente se referir ao Haiti e a países africanos como “países de m…”

Mas nesta quarta-feira, o ex-presidente dos EUA adotou um tom visivelmente diferente — embora um comentário específico ainda tenha deixado críticos furiosos.

Durante um encontro com o presidente da Libéria, Joseph Boakai, Trump o elogiou por seu “excelente inglês.”

O que ele aparentemente não sabia é que o inglês é o idioma oficial da Libéria — e que Boakai foi educado em seu próprio país.

Mais uma gafe diplomática

A política externa de Donald Trump em relação à África sempre foi cercada de polêmicas. Ele cortou milhões em ajuda humanitária e concedeu status de refugiado a fazendeiros brancos sul-africanos, ao mesmo tempo em que restringia viagens de diversos países de maioria negra.

Na tentativa de conter a crescente influência da China no continente africano e fortalecer os laços com a região, Trump recebeu na Casa Branca os líderes do Gabão, Guiné-Bissau, Libéria, Mauritânia e Senegal. A reunião, focada em reforçar relações comerciais, marcou o que ele chamou de mudança de estratégia, passando de “ajuda para comércio.”

“Tratamos a África muito melhor do que a China ou qualquer outro país”, afirmou.

Trump elogiou as nações visitantes como “lugares vibrantes, com terras valiosas, grandes reservas minerais, de petróleo e com pessoas maravilhosas.”

Mas o comentário improvisado ao presidente liberiano reacendeu críticas online e trouxe de volta a lembrança de declarações anteriores de Trump sobre o continente africano.

Durante o encontro, o presidente da Libéria, Joseph Boakai, agradeceu a Trump pela oportunidade de colaborar em questões de paz e segurança. Foi então que Trump o interrompeu:

— Obrigado. E que inglês ótimo. Tão bonito. Onde você aprendeu a falar tão bem? Onde estudou? Onde?

Boakai respondeu com calma que foi educado na Libéria — onde o inglês é a língua oficial. A reação de Trump?

— Isso é muito interessante. Inglês lindo! Tem gente nesta mesa que não fala nem metade disso.

“Ignorância no auge”

O comentário, embora soasse como elogio, gerou reação imediata nas redes sociais e em círculos diplomáticos.

— Me senti insultado, porque nosso país é anglófono — disse Archie Tamel Harris, ativista juvenil liberiano, em entrevista à CNN.

— Para ele fazer essa pergunta… não vejo como elogio. Acho que o presidente dos EUA e o Ocidente ainda enxergam africanos como gente de aldeia, sem educação.

A Libéria é um país da costa oeste africana com cerca de 5 milhões de habitantes. O inglês é sua língua oficial. Foi fundada em 1822 pela American Colonization Society, um grupo que buscava reassentar ex-escravizados dos EUA. Tornou-se independente em 1847.

Um diplomata liberiano, que falou sob anonimato, classificou as palavras de Trump como “um tanto condescendentes”. Já a deputada americana Jasmine Crockett (D-TX) foi direta no X (antigo Twitter):

— Trump nunca perde uma chance de ser racista e ignorante, e todo dia encontra um novo jeito de passar vergonha. Perguntar ao presidente da Libéria onde ele aprendeu inglês, sendo essa a língua oficial do país, é ignorância no auge.

Até a política sul-africana Veronica Mente comentou nas redes, questionando por que Boakai não simplesmente se retirou da reunião.

Não é a primeira vez

Essa não é a primeira polêmica de Trump ao se dirigir a líderes não ocidentais. Em 2018, ele ficou conhecido por chamar o Haiti e diversos países africanos de “países de m…”.

Apesar de negar, o senador Dick Durbin — que estava presente na reunião — afirmou que Trump fez comentários “odiosos, vis e racistas”, e os repetiu.

Nos anos seguintes, Trump intensificou seu discurso pró-inglês. Em março deste ano, assinou uma ordem executiva tornando o inglês a língua oficial dos EUA. Em reuniões com líderes estrangeiros, tem avaliado abertamente como eles se expressam.

Durante um encontro com o chanceler alemão Friedrich Merz, por exemplo, perguntou:

— Seu inglês é tão bom quanto seu alemão?

Merz respondeu com um riso: “Faço o melhor que posso.”

Trump também já evitou responder jornalistas com base na forma como falavam inglês.

“Não consigo entender uma palavra do que ele está dizendo. É o sotaque”, disse Trump sobre um jornalista indiano em fevereiro.

Falando com um repórter afegão, ele comentou: “Sotaque lindo… o único problema é que não entendo uma palavra.”

Casa Branca: “Foi um elogio”

Apesar da polêmica, o governo Trump insiste que o comentário sobre a Libéria foi feito com boas intenções.

“O continente africano nunca teve um amigo na Casa Branca como tem no presidente Trump”, disse Massad Boulos, conselheiro sênior para assuntos africanos.

A vice-secretária de imprensa da Casa Branca, Anna Kelly, reforçou o sentimento, chamando a fala de “um elogio sincero”.

Até a ministra das Relações Exteriores da Libéria, Sara Beysolow Nyanti, defendeu o episódio:

“Não houve ofensa… O que o presidente Trump percebeu distintamente foi a influência americana no nosso inglês na Libéria, e o presidente liberiano não se ofendeu com isso.”

Os líderes africanos também expressaram apreço — e até admiração — por Trump. Boakai afirmou que a Libéria apoia a visão global de Trump, acrescentando: “Acreditamos na política de tornar a América grande novamente.”

Mas alguns críticos argumentam que a abordagem “negócios em primeiro lugar” de Trump ainda carece de substância.

“O sucesso da China na África se deve talvez em parte ao fracasso da política externa dos EUA”, escreveu o cientista político chinês Wenfang Tang no ano passado, observando que, enquanto os EUA frequentemente adotam um tom “moralista”, a China trata os africanos como “camaradas e parceiros comerciais”.

O comentário de Trump foi um elogio genuíno — ou apenas mais uma observação insensível enraizada em visões ultrapassadas sobre a África?

Alguns dizem que foi uma referência amigável aos laços americanos da Libéria. Outros veem como mais um exemplo de condescendência com um continente que ele já ofendeu repetidamente. O que você acha — elogio inofensivo ou gafe diplomática?

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