À primeira vista, ela parecia qualquer outra garotinha — olhos brilhantes, cabelos loiros e um sorriso tímido.
Mas por trás daquele rosto inocente havia uma infância marcada por dor, negligência e segredos sombrios o bastante para distorcer qualquer alma.
Sua mãe desapareceu
Nascida em 1956, em uma cidade tranquila de Michigan, sua vida começou em meio ao caos. Quando tinha apenas quatro anos, sua mãe, de 20, arrumou as malas e desapareceu, deixando ela e o irmão para trás.
A mãe mais tarde afirmou que provavelmente foi “o maior erro” que cometeu em toda a vida.
Quase ao mesmo tempo, o pai, de 23 anos, já preso por sequestro e agressão a uma jovem, tirou a própria vida na prisão.
A avó dela lutava contra o alcoolismo, e o avô era descrito como violento, até mesmo predador.
“Eu deveria ter… adotado eles para estranhos. Nós, na nossa família, sofremos uma forma de abuso infantil. Meu pai era verbalmente abusivo. Minha mãe também era, e sempre nos diziam que não prestávamos”, contou mais tarde a mãe da garota ao The Tampa Bay Times.
Tutelada pelo Estado
Aos 13 anos, ela engravidou após ser estuprada. Alguns até diziam que seu próprio irmão poderia ser o pai. Mas de acordo com outras pessoas, ela supostamente teria sido estuprada por um amigo de seu avô.
Familiares contaram depois ao The Tampa Bay Times que ninguém acreditou nela na época. Nenhum boletim de ocorrência chegou a ser registrado.
Ela deu o bebê para adoção, esperando oferecer a ele uma vida melhor do que a que teve.
Logo depois, uma nova tragédia aconteceu. Sua avó faleceu — um golpe duro para ela. A descrevia como uma mulher “muito limpa e decente”, que não bebia nem dizia palavrões. Pouco tempo depois, o avô tirou a própria vida.
Ela e o irmão, Keith, tornaram-se tutelados pelo Estado. Aos 11 anos, ela começou a ter relações sexuais na escola em troca de cigarros, drogas e comida. Sozinha e desesperada, a garota largou a escola e passou a viver nas ruas, sobrevivendo por meio de pequenos crimes e prostituição.
Na década seguinte, ela acumulou prisões por furto, agressão e conduta desordeira — uma ficha criminal que parecia crescer a cada ano.
Por volta dos 25 anos, havia se mudado para a Flórida, estado que em breve conheceria seu nome da pior forma possível. Em 1989, o corpo de um homem foi encontrado em uma floresta próxima a Daytona Beach, com vários tiros. Duas semanas depois, a polícia ligou o assassinato a uma mulher que havia sido vista pedindo carona nas redondezas.

Quando a encontraram, ela confessou — não apenas um assassinato, mas vários. Um após o outro, homens em toda a região central da Flórida começaram a aparecer mortos.
Ela afirmava que agiu em legítima defesa e que todos os homens tentaram agredi-la, dizendo que apenas lutava pela própria vida.
“Eu não odeio os homens”, disse ela ao Orlando Sentinel em março de 1991. “Passei por tantas experiências traumáticas que ou estou vivendo em choque, ou me acostumei tanto a ser tratada como lixo que isso acabou virando um modo de vida.”
A “Donzela da Morte”
Mas os promotores viam algo diferente: uma assassina fria e calculista, que atraía homens, os matava e roubava seus pertences.
Quando o caso foi a julgamento, ela já era acusada de matar sete homens em apenas um ano. A imprensa a chamou de “a primeira serial killer mulher dos Estados Unidos.”
Seu nome se tornou infame desde então, com sua história sendo contada em livros, documentários e até filmes de Hollywood.
Ela era Aileen Wuornos — a “Donzela da Morte.”
Um circo midiático
“Wuornos é uma assassina que rouba, não uma ladra que mata. Ela realmente parece ser uma serial killer”, afirmou o investigador-chefe Steve Binegar em 1991.
O julgamento de Wuornos rapidamente se transformou em um espetáculo midiático. Ela sustentou que cada assassinato foi um ato de autodefesa contra homens que tentaram machucá-la. Mas o júri não acreditou. Em janeiro de 1992, ela foi considerada culpada e condenada à morte.
Após receber seis sentenças de morte, Wuornos declarou em tribunal: “Sou o mais culpada possível. Quero que o mundo saiba que matei esses homens, fria como gelo. Tenho odiado os humanos há muito tempo. Sou uma serial killer. Matei a sangue frio, de forma bem cruel.”

Confinada no corredor da morte na Prisão Correcional de Broward, na Flórida, enquanto aguardava sua execução, ela frequentemente reclamava da decisão de adiar seu destino.
“Não há motivo para me poupar”, disse Wuornos em julho de 2001. “É um desperdício do dinheiro dos contribuintes. Matei aqueles homens, roubei eles. E faria tudo de novo também.
“Não há sentido em me manter viva, porque eu mataria de novo. O ódio corre nas minhas veias.”
Suas últimas palavras
A execução de Wuornos foi finalmente realizada por injeção letal em 9 de outubro de 2002. Antes que a sentença fosse cumprida, a mulher de 46 anos murmurou sua última declaração:
“Eu só gostaria de dizer que estou navegando com a rocha, e voltarei, como em Independence Day, com Jesus. 6 de junho, como no filme. Uma nave-mãe gigante e tudo mais — eu voltarei, eu voltarei.”
Embora seus crimes tenham horrorizado o mundo, seu passado trágico ainda deixa uma pergunta perturbadora: Aileen nasceu um monstro — ou foi transformada em um?
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